Banco Central garante que liquidação do Banco Master não põe em risco sistema financeiro
nov, 29 2025
O Banco Central do Brasil tranquilizou o mercado ao afirmar, em ata divulgada em 26 de novembro de 2025, que a liquidação extrajudicial do Banco Master S.A. — decretada pelo Banco Central por meio do Ato 1.369 em 18 de novembro — não representa risco sistêmico para o Sistema Financeiro Nacional (SFN). O conglomerado, classificado como de "porte pequeno", respondia por apenas 0,57% dos ativos totais e 0,55% das captações do SFN. Isso significa que, mesmo com uma fraude de R$ 12 bilhões envolvendo mais de R$ 86 bilhões em ativos, o impacto foi contido — não por acaso, mas por uma combinação de sorte e planejamento.
Por que o mercado não entrou em pânico?
Surpreendentemente, a queda do Banco Master não desencadeou corrida bancária. E por um motivo simples: ninguém ficou de surpresa. Agentes do mercado já vinham observando sinais de alerta há meses. O banco, que pagava juros absurdos — até 20% ao ano em CDBs —, investia em ativos opacos, muitos deles vinculados a empresas de fachada. "Estamos falando de uma fraude bilionária em que o Banco Master pagava juros altíssimos e investia em ativos muito arriscados que, como as investigações criminais revelaram, se tratavam de fraudes", afirmou Patricia Maia, sócia do escritório Barbosa Maia Advogados. O que parecia um milagre financeiro era, na verdade, um esquema Ponzi disfarçado de banco.
Além disso, o Banco Master não tinha conexões profundas com outras instituições. Não era um "nó central" no sistema, como eram o Bamerindus ou o Nacional nos anos 1980. Isso evitou o efeito dominó. E, mais importante ainda: a liquidação foi anunciada com antecedência. O mercado já havia começado a vender exposições, redistribuir depósitos e se proteger. "A gente não está falando de um movimento de surpresa", comentou um especialista citado pelo FAS Advogados. "Os riscos já vinham sendo distribuídos — só que com um passivo maior para o FGC.""
O peso do FGC e o papel das plataformas digitais
Se o sistema financeiro não entrou em colapso, o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) sim sentiu o impacto. Das R$ 41 bilhões em CDBs elegíveis para garantia, cerca de R$ 36 bilhões — ou 87,8% — estavam concentrados nas três maiores plataformas de investimento digital do país: XP Investimentos, BTG Pactual e Nubank. Isso transformou os pequenos investidores em vítimas indiretas, mas protegidas. O FGC, que tem capacidade de pagar até R$ 250 mil por CPF, agora enfrenta sua maior prova de fogo desde sua criação.
Curiosamente, o Banco Master chegou a ser elogiado pela agência de classificação de risco Fitch Ratings, que elevou seu rating nacional para "A-(bra)" em 2024, citando "fortalecimento de capital". Em 2025, entrou até em rankings internacionais de bancos por capital Tier 1. A contradição é gritante: como um banco com tais falhas foi aprovado por tantos? A resposta, segundo analistas, está na promiscuidade entre bancos médios, fundos opacos e instituições estatais.
O BRB e a sombra da legitimidade
O Banco de Brasília (BRB) está sob investigação interna do Banco Central por operações suspeitas de R$ 16,7 bilhões realizadas entre julho de 2024 e outubro de 2025. Mesmo com "ressalvas formuladas" pelo BC, o BRB permitiu que o Master usasse sua reputação estatal como ponte para legitimar operações duvidosas. "É um caso clássico de uso de banco público como fachada", disse um ex-funcionário do BRB, sob anonimato. "O Master não tinha credibilidade. Então, usava o BRB para parecer sério. E muitos acreditaram."
Prisões, investigações e o que vem a seguir
Em novembro, o ex-diretor do Banco Master, Daniel Vorcaro, foi preso, juntamente com outros três dirigentes, acusados de lavagem de dinheiro, fraude e organização criminosa. A investigação, conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, já apontou para um esquema que envolveu contas offshore, empresas fantasmas e transferências de recursos para imóveis no exterior.
Enquanto isso, o Banco Central manteve a taxa Selic em 0% em sua reunião de 19 de novembro — uma decisão que gerou controvérsia. Alguns economistas acreditam que o BC deveria ter subido os juros para conter o risco de inflação induzida pela injeção de recursos do FGC. Outros, porém, argumentam que o mercado já havia precificado o risco. O fato é que, mesmo com a liquidação do Master, a economia não entrou em crise. Mas isso não significa que o sistema está seguro.
Um ponto de virada na supervisão bancária
O caso Master é mais do que um escândalo financeiro. É um alerta. Ele expõe uma falha estrutural: o Banco Central concentra seus esforços de fiscalização em grandes bancos, enquanto instituições de menor porte operam com pouca transparência e supervisão efetiva. "O Master não era um gigante, mas era um monstro em escala pequena", disse um ex-superintendente do BC, que pediu para não ser identificado. "Nós olhávamos para o tamanho, não para o risco. E isso foi um erro."
Espera-se agora que o BC apresente, nos próximos meses, novas regras para bancos médios e pequenos, com exigências mais rígidas de capital, divulgação de riscos e controle de exposições. O Congresso também deve acelerar a votação do projeto que atualiza o marco legal de resolução bancária — algo que estava parado desde 2021.
Como isso afeta você?
Frequently Asked Questions
O Fundo Garantidor de Créditos vai conseguir pagar todos os depositantes do Banco Master?
Sim, o FGC tem capacidade para cobrir todos os depósitos elegíveis até R$ 250 mil por CPF. Dos R$ 41 bilhões em CDBs, cerca de R$ 36 bilhões já foram distribuídos entre as plataformas digitais, e o FGC já iniciou os pagamentos. O problema não é a capacidade, mas o impacto no seu caixa — o FGC pode precisar de até R$ 8 bilhões em recursos do Tesouro para se manter saudável, o que pode levar a ajustes fiscais no futuro.
Por que o Banco Central não interveio antes?
O BC tinha alertas, mas a legislação atual exige que a intervenção ocorra apenas quando há risco iminente de falência. O Banco Master operava legalmente — só que de forma fraudulenta. A fiscalização não detectou as fraudes porque os registros contábeis eram falsificados, e os auditores externos não tinham acesso aos verdadeiros ativos. É um problema de informação, não de vontade.
Quais plataformas de investimento estão mais envolvidas no caso?
XP Investimentos, BTG Pactual e Nubank foram as três maiores distribuidoras de CDBs do Banco Master, respondendo por 87,8% dos valores. Nenhuma delas foi acusada de má-fé, mas todas estão sendo investigadas por falta de due diligence. A XP, por exemplo, tinha R$ 15 bilhões em CDBs do Master em seu portfólio. A pergunta que fica: como tantos investidores confiaram em um banco com juros tão altos?
O caso Master pode afetar outros bancos menores?
Sim. Já há sinais de que bancos com modelos semelhantes — juros altos, pouca transparência, forte presença em plataformas digitais — estão sendo revisados pelo BC. Alguns já começaram a reduzir seus CDBs ou a aumentar seus requisitos de capital. O mercado está mais cauteloso. E os investidores, finalmente, estão aprendendo: se o juro parece bom demais para ser verdade, provavelmente é.
O BRB pode ser punido por suas operações com o Master?
Ainda não há acusações formais, mas o BC já encaminhou o caso à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Se for comprovado que o BRB ignorou alertas ou facilitou transações fraudulentas, pode enfrentar multas, restrições de operação e até perda de licença para operar como banco estatal. O dano à imagem do BRB já é irreversível.
O que o caso Master muda para o investidor comum?
Muito. Antes, muitos acreditavam que investir em CDBs era "seguro" porque era "bancário". Agora, sabemos que o nome do banco não garante nada — só a transparência e a supervisão. O investidor precisa olhar para a origem do ativo, não só para o rendimento. E o BC, finalmente, tem que ensinar isso — antes que outro Master surja.
Eduardo Gusmão
novembro 30, 2025 AT 08:19Esse caso do Master é um alerta vermelho pra todo mundo que acha que CDB é seguro só porque é banco. A gente fica na fé que o sistema é sólido, mas quando o pior acontece, é o pequeno investidor que paga a conta. O FGC tá segurando, mas até quando? E se o próximo for maior?
Se o BC só fiscaliza os grandes, tá faltando política de prevenção. Não dá pra esperar outro esquema pipocar pra agir.
Thamyres Vasconcellos
dezembro 2, 2025 AT 00:43É simples: quem investiu em CDB com 20% ao ano merecia ser roubado. Não há vítima inocente quando o rendimento é absurdo. O mercado está cheio de gente que quer enriquecer rápido sem estudar, sem pesquisar, sem ter noção de risco. Isso não é falha do sistema, é falha humana. E o FGC não é um resgate de preguiçosos.
Alexandre Oliveira
dezembro 3, 2025 AT 04:39eu não sabia que o brb tava envolvido nisso... isso é sério demais. tipo, um banco público sendo usado como fachada? isso dói no peito. eu confio no brb, mas agora tô com medo. será que o que eu tenho lá tá seguro? não quero perder nada, mas também não quero achar que todo banco é golpe. alguém sabe se tem alguma orientação do bc pra gente fazer agora?
meu pai sempre dizia: se parece bom demais, é falso. mas eu esqueci disso. aprendi na marra.
Joseph DiNapoli
dezembro 4, 2025 AT 01:52Claro que o BC não interveio antes... porque se ele fizesse isso em todo banco que paga 18% de juro, ele teria que fechar 90% dos bancos pequenos do país. E aí? Quem paga a conta? O contribuinte? Pois é. O sistema é um circo. E nós, os investidores, somos o público pagando pra ver o show. Parabéns, Brasil. Mais um sucesso nacional.
Leonardo Santos
dezembro 5, 2025 AT 16:48o pior é que todo mundo já sabia que o master era suspeito... mas ninguém quis dizer nada. tipo, se você vê um cara pagando 20% de juro, você não pergunta como ele faz isso? você só pensa: 'ah, vou colocar meu dinheirinho lá'.
e agora o bc vai criar regras novas? ótimo. mas será que vai ser diferente dessa vez? ou vai ser só mais um monte de papel que ninguém vai ler?
Gisele Pinheiro
dezembro 6, 2025 AT 00:15Eu acho que o grande problema aqui é a confiança cega. As pessoas acreditam que se é banco, é seguro. Mas banco é empresa. Empresa quer lucro. E se o lucro vem de fraude, aí é problema. Não adianta só apontar o FGC. A gente precisa aprender a pensar por conta própria. Juro alto = risco alto. Ponto.