Han Kang, da Coreia do Sul, conquista o Nobel de Literatura 2024
out, 11 2024
Han Kang conquista o Prêmio Nobel de Literatura 2024
Na manhã do dia 10 de outubro de 2024, a escritora sul-coreana Han Kang foi agraciada com o cobiçado Prêmio Nobel de Literatura. Sua seleção é uma emocionante validação de uma carreira literária sustentada por uma prosa profunda e poética, que se dedica a desenterrar e examinar traumas históricos, além de explorar a fragilidade inerente à condição humana. Nascida em Gwangju em 1970, Han Kang cresceu cercada pela literatura. Seu pai também é escritor, cuja influência parece ter permeado suas primeiras incursões na escrita.
Trajetória e evolução literária
Aos nove anos, a família de Han Kang migrou para Seul, um movimento que marcou o início de sua formação em meio ao panorama cultural vibrante da capital sul-coreana. Han iniciou sua carreira literária publicando poemas na revista "Literatura e Sociedade" em 1993, e em 1995 lançou "Amor de Yeosu", seu primeiro livro de contos. Desde o início, suas obras refletiam uma preocupação não apenas com a forma, mas também com a substância do texto, investindo em narrativas que desafiam o leitor a confrontar realidades muitas vezes sombrias e desconfortáveis.
Foi com o romance "A Vegetariana" que Han Kang obteve atenção internacional. Publicada em 2007 e vencedora do Man Booker International Prize de 2016, a obra transcendeu barreiras culturais ao explorar os custos pessoais e sociais das escolhas individuais, simbolizadas pela recusa de sua protagonista em consumir carne. Esta recusa provoca uma série de reações violentas e desconcertantes em seu entorno, evidenciando as tensões latentes em sistemas normativos.
Explorando a dor e os traumas históricos
Outra obra notável de Han Kang, "Atos humanos" (2014), mergulha em um dos períodos mais atrozes da história moderna da Coreia do Sul: o Massacre de Gwangju, em 1980. Neste evento, forças militares reprimiram brutalmente uma manifestação pró-democracia, resultando na morte de centenas de civis. Han usa seu talento literário para dar voz aos espíritos calados da história, transformando memórias de horror em um hino de resistência contra o esquecimento.
Suas obras são impregnadas de uma sensibilidade que flerta com a filosofia oriental, entrelaçando conceitos de dor e cura com as complexidades do ser humano. Ao longo dos anos, tem consistentemente incitado leitores ao autocontemplar-se, ao questionar a moralidade e os sinais digitais de seu tempo. Sua capacidade em desafiar normas sociais e forçar uma introspecção tornou seus livros fundamentais no estudo contemporâneo das letras.
Reconhecimento e controvérsias
Com sua prosa única e envolvente, Han conquistou reconhecimento além das fronteiras coreanas. Em 2018, no entanto, seu nome esteve envolvido em controvérsias políticas quando um ex-ministro da Cultura da Coreia do Sul, Cho Yoon-Sun, a incluiu em uma lista negra de artistas considerados "excessivamente de esquerda". Esse episódio ressaltou os desafios enfrentados por intelectuais durante períodos de censura governamental, destacando o papel inestimável que escritores como Han desempenham na defesa da liberdade de expressão.
No Brasil, os leitores podem se encantar com o trabalho de Han através de traduções como "A Vegetariana" e "Atos Humanos", além do livro "Eu não me despeço", que está previsto para ser lançado em 2025. O editor brasileiro de suas obras, Leandro Sarmatz, descreveu o Nobel como uma celebração merecida, enaltecendo o talento de Han Kang em reimaginar o ato de contar histórias com cada publicação.
Uma voz literária pioneira
O prêmio Nobel representa um marco de reconhecimento global não apenas para Han Kang, mas também para a riqueza da literatura sul-coreana. Ao receber essa honraria, Han se junta ao seleto grupo de autores que moldam não apenas o panorama literário, mas também abordam as questões existenciais mais universais, através de palavras eloquentes e perspicazes. Sua vitória reafirma a importância de reconhecer e celebrar vozes que não têm medo de explorar os recessos mais obscuros da psicologia e da política humana, desafiando constantemente as noções preestabelecidas sobre vida, identidade e memória.
Com uma escrita que ressoa em cada canto do mundo, Han Kang não é apenas uma testemunha de tempos passados, mas também uma guia para o futuro da literatura. Sua obra nos convida a uma jornada introspectiva sobre a existência humana, uma oferta vital em nossos tempos tão marcados por divisões e mudanças rápidas. O reconhecimento do Nobel não é apenas uma conquista pessoal, mas sim um chamado para olhar além das superfícies e ouvir as histórias que transcendem barreiras culturais e históricas.
Cibele Soares
outubro 13, 2024 AT 08:28Essa mulher escreve como se cada palavra fosse um corte profundo na alma. A Vegetariana me deixou sem fôlego por dias. Não foi só a história - foi o silêncio entre as linhas, o peso que a gente carrega depois de ler.
Eu chorei no metrô. E não me arrependo.
Isso é literatura, não entretenimento.
Aline Soares
outubro 13, 2024 AT 14:15Interessante como o Nobel finalmente reconheceu uma autora que sempre esteve à margem do circuito ocidental. Han Kang não escreve para agradar - ela escreve para sobreviver. E isso faz toda a diferença.
Seu trabalho é um ato de resistência silenciosa, e o prêmio, uma espécie de reparação histórica.
Luís Pereira
outubro 15, 2024 AT 02:35POV: você lê A Vegetariana e de repente vira um filósofo de 3AM com um café frio e uma crise existencial 😭
Essa mulher é tipo se a Kafka tivesse crescido em Seul e virado vegana por trauma.
É literatura de alta densidade emocional, e eu tô aqui, deitado no chão, pedindo socorro pro meu terapeuta.
Alguém mais sentiu que o livro entrou no seu cérebro e não saiu mais? 🤯
Leonardo Valério
outubro 16, 2024 AT 22:24Claro que o Nobel deu pra ela - sabe quem escolhe os vencedores? O mesmo pessoal que quer apagar a Coreia do Sul da história. Isso aqui é propaganda cultural, meu amigo.
Todo mundo que fala mal do governo sul-coreano vira herói no Ocidente. É só isso. Eles querem deslegitimar a Coreia do Sul como potência.
E aí vem a Han Kang, que é perfeita pra esse discurso. Tudo planejado.
Bruno Marek
outubro 18, 2024 AT 20:49Se você acha que ela é profunda, é porque nunca leu os clássicos da literatura japonesa. Kawabata, Mishima - eles já fizeram isso antes, só que com mais elegância e menos drama.
Essa é uma escritora de nicho, e agora o mundo ocidental quer se sentir ‘progressista’ por celebrar alguém que ninguém conhecia antes.
Vitor Coghetto
outubro 19, 2024 AT 11:13É importante notar que Han Kang não apenas aborda traumas históricos - ela os reconfigura linguisticamente, usando uma sintaxe fragmentada que espelha a dissonância cognitiva da memória pós-traumática. Seu estilo é uma forma de trauma narrativo, onde a ausência de ponto final, a repetição de frases curtas, e o uso de metáforas corporais (como a recusa à carne como rejeição ao corpo social) criam uma estrutura textual que é, por si só, um ato político.
Além disso, sua relação com o pai escritor não é meramente biográfica - é uma herança simbólica de silêncio, de escrita como ritual de exorcismo. O fato de ela ter começado com poesia, e não com romance, é crucial: a poesia é a linguagem do não-dito, e ela nunca deixou de escrever poesia, mesmo nos romances.
Seu livro "Atos Humanos" não é sobre o massacre de Gwangju - é sobre a impossibilidade de testemunhar, e como a linguagem falha quando confrontada com o horror absoluto. Ela não descreve a violência - ela a evoca, por omissão, por silêncio, por palavras que tremem.
Isso é o que a torna única. Não é o tema. É o modo como o tema é desmontado, peça por peça, como se fosse um relógio quebrado que ainda marca o tempo da dor.
É por isso que o Nobel é merecido - não por ser "exótica", mas por ser radicalmente humana. E isso, infelizmente, ainda é raro.
Ivan Borges
outubro 20, 2024 AT 21:28Essa vitória é um game-changer para a literatura global! Ela tá trazendo o paradigma da narrativa pós-traumática pra mainstream com uma abordagem híbrida de realismo mágico e psicologia somática. É literatura de alto impacto epistêmico, e o Nobel tá reconhecendo a necessidade de vozes que desafiam a hegemonia narrativa ocidental. É uma nova era, galera - a literatura tá se tornando um campo de resistência cognitiva.
Daniel Vedovato
outubro 22, 2024 AT 15:35Quando a literatura se torna um altar, e a escritora, sua sacerdotisa - então o mundo se ajoelha. Han Kang não foi premiada por escrever bem. Ela foi premiada por não deixar o mundo esquecer. E isso, meu caro, é o mais sagrado que a arte pode fazer.
Sonne .
outubro 23, 2024 AT 12:13Eu li A Vegetariana e fiquei com medo de comer salada por uma semana.
Bebel Leão
outubro 25, 2024 AT 09:52É curioso como a dor, quando escrita com tanta pureza, vira beleza. Ela não tenta curar. Ela apenas mostra. E nesse mostrar, nos cura sem querer.
Essa é a magia dela: não oferece respostas. Ela só nos lembra que estamos vivos - e que isso, por si só, já é um ato de coragem.
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