Lula não vota na eleição do PT por causa do BRICS, mas lidera intenções de voto para 2026
nov, 21 2025
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participará da eleição interna do Partido dos Trabalhadores em 19-20 de julho de 2025 — não por falta de interesse, mas por obrigação. Enquanto os filiados votam nas urnas do partido, Lula estará no Rio de Janeiro, presidindo a cúpula do BRICSRio de Janeiro. A regra estatutária do PT exige que ele vote apenas em Brasília ou São Paulo, e com o evento internacional marcado para o mesmo fim de semana, sua presença no Rio é inegociável. A ausência dele, porém, não é sinal de afastamento. É o contrário: é um sinal de que ele ainda é o centro gravitacional do partido — mesmo quando não está na urna.
Quatro nomes, uma missão: o PT sem Lula na urna
A eleição interna do PT promete ser a mais acirrada da última década. Quatro candidatos disputam a presidência da legenda: Edinho Silva, Romênio Pereira, Rui Falcão e Valter Pomar. Cada um representa uma vertente diferente: o pragmatismo sindical, a renovação geracional, a tradição petista e o alinhamento com o governo. Mas todos têm um objetivo comum: reconstruir a máquina partidária para a eleição de 2026. O novo comando terá em mãos um fundo eleitoral de mais de R$ 1,2 bilhão — o maior da história do PT — e a tarefa nada fácil de reverter a desconfiança de 58% dos eleitores que ainda dizem não querer Lula na próxima disputa presidencial.
"É um processo de reconstrução", disse um assessor do Planalto, sob anonimato. "Lula não precisa ser presidente do PT para ser o líder. Mas quem for eleito precisa entender que o partido é a base dele. Se não fizer isso, o governo corre risco de desmoronar no segundo turno."
Lula na liderança — mas com o chão escorregadio
As pesquisas do Quaest revelam uma realidade contraditória: Lula lidera em todos os cenários de primeiro turno, mas sua vantagem se desvanece no segundo. Em julho de 2025, com 2.004 entrevistados e margem de erro de ±2 pontos, ele aparece com 32% das intenções de voto — contra 26% de Jair Bolsonaro e 19% de Michelle Bolsonaro. No segundo turno, porém, ele empataria com Tarcísio de Freitas (41% a 37%), dentro da margem de erro. Isso não é vitória. É sobrevivência.
Essa dinâmica mudou drasticamente desde maio. A porcentagem de eleitores que acreditam que Lula deve concorrer novamente subiu de 32% para 38% em apenas dois meses. Já os que se opõem à sua reeleição caíram de 66% para 58%. O que mudou? Dois fatores: a operação de contenção das tarifas de Donald Trump e a nova taxação dos ricos, aprovada em agosto.
A operação contenção e a nova arrecadação
Quando Donald Trump impôs tarifas sobre aço, soja e café brasileiro em junho, Lula respondeu com retórica de soberania — e ações concretas. O governo suspendeu compras de aviões da Boeing, restringiu a entrada de produtos farmacêuticos americanos e acelerou acordos com a China e a Índia. A reação foi imediata: 57% dos brasileiros aprovaram a resposta, segundo pesquisa de 16 de julho. Foi a melhor avaliação governamental em 12 meses.
Em agosto, o governo implementou a taxação de renda acima de R$ 50 mil por mês, com recursos direcionados à educação e saúde. Em outubro, a aprovação da medida chegou a 67%. Lula subiu de 33% para 36% nas intenções de voto. "Não foi um milagre", apontou Cila Schulman, consultora eleitoral citada pela CNN Brasil. "Foi uma operação de guerra política. Eles souberam transformar uma agressão externa em um ganho interno. Mas isso não garante voto. Só cria fôlego."
Por que o eleitor de baixa renda não vai às urnas?
"O eleitor do PT é o que menos vota", diz Schulman. "Ele trabalha em dois turnos, não tem tempo para ir à seção, não acredita que o voto muda nada. E quando não vai, Lula perde. Não por falta de apoio — por falta de mobilização."
Na eleição de 2022, Lula venceu no segundo turno por apenas 2 milhões de votos. Mas se a abstenção tivesse sido 10% menor, ele teria vencido no primeiro turno. É isso que assusta o PT agora: a memória coletiva de que, mesmo com liderança nas pesquisas, a eleição pode escapar por causa da desmobilização.
A nova diretoria do PT terá que resolver isso. Não basta ter dinheiro. É preciso ter gente nas ruas. E não só nas redes sociais.
O que vem depois da cúpula do BRICS?
Com o BRICS encerrado em 20 de julho, Lula volta ao eixo político interno. A próxima grande prova será a divulgação das novas pesquisas pós-operacao contenção — e a reação da oposição. Tarcísio de Freitas, que subiu de 28% para 30% nas intenções de voto desde maio, já sinaliza que não se contentará com o papel de herdeiro. "Vamos ver se ele quer ser o Bolsonaro 2.0 ou o novo candidato da direita", diz um estrategista do MDB.
Enquanto isso, o PT prepara um plano de mobilização em 12 estados. O foco: bairros populares, periferias, comunidades quilombolas e indígenas. O objetivo: transformar apoio em voto. Porque no Brasil, o que pesa não é o que as pesquisas dizem. É o que as pessoas fazem na urna.
Frequently Asked Questions
Por que Lula não pode votar na eleição do PT no Rio?
O estatuto do PT exige que membros votem apenas em suas seções eleitorais registradas — e Lula está registrado em São Paulo. Como a eleição ocorre no mesmo dia da cúpula do BRICS no Rio, ele não pode viajar para outro estado para votar. Mesmo sendo presidente, ele está sujeito às mesmas regras que qualquer filiado. A ausência é técnica, não política.
Como a taxação dos ricos impactou as intenções de voto de Lula?
A medida, aprovada em agosto de 2025, elevou a arrecadação em R$ 4,3 bilhões em três meses e foi vista como justa por 67% da população, segundo o Quaest. Lula subiu de 33% para 36% nas intenções de voto entre agosto e outubro. O impacto foi maior entre mulheres e jovens de 25 a 34 anos, que passaram a ver o governo como mais equilibrado e menos favorável aos ricos.
Qual é o maior risco para Lula na eleição de 2026?
A abstenção entre os eleitores de baixa renda. Embora Lula tenha 36% de intenções de voto, 58% dos brasileiros ainda dizem não querê-lo na presidência. O desafio não é convencer os opositores — é fazer os aliados saírem de casa. Nas últimas eleições, a abstenção foi de 28% entre os eleitores com renda até 2 salários mínimos — o que custou a vitória no primeiro turno.
O que a ausência de Lula na eleição do PT pode significar para o futuro do partido?
Pode ser um sinal de maturidade: o PT está tentando se tornar mais que um partido de Lula. Mas também pode ser um risco. Se a nova direção não conseguir unificar os candidatos e manter a base, o partido pode se fragmentar. Rui Falcão, por exemplo, já sinalizou que não apoiará um candidato que não tenha o aval de Lula — o que pode gerar tensões internas.
Por que Tarcísio de Freitas é considerado o principal adversário de Lula?
Tarcísio não tem o peso político de Bolsonaro, mas tem a estrutura do governo de São Paulo, o apoio de setores do agronegócio e uma imagem de administrador eficiente. Enquanto Bolsonaro permanece inelegível até 2030, Tarcísio cresce nas pesquisas sem o estigma do julgamento. Ele é o único nome da direita que consegue atrair eleitores moderados — e isso o torna o maior obstáculo para Lula no segundo turno.